domingo, 28 de dezembro de 2008

não estou lá

procuro e não acho
acho quando não procuro
as vezes esqueço de procurar
só quando esqueço de mim

não estou no m que começa com r
não estou nos passos marcados
não estou no sorriso embriagado
muito menos nas palavras monitoradas por radar

não estou nesse simulacro que fizeste de mim
nem na aprovação do vestibular social

já revirei livros
construi muros de poesias
montei arsenais de artigos
mergulhei em álbuns
traduzi músicas

o que procuro
o que procuro?
procuro o que?
pro-curo?
pro-cura

não está nas gavetas
nas palavras que amplio
amplifico, afino e desafino

não está nos passos incertos
nem no caminho esquecido de tão traçado
corroido pelas traças
pois dolorido

já dei piruetas
invadi a bolha
rezei escondida sem nem perceber
apaguei a luz e ficou tudo tão claro
quase tão claro que a (arco)íris não suportou
mas continua lá

fiz plantão 'entrelinhas'
e continua lá

lá porque aqui
aqui porque interior
interior mas não menos estrangeiro

não entendo o que diz
tantos mares não navegados
caravelas afundadas
mapas rasgados, perdidos, esquecidos

desejo na espera da cartografia
amores e novas rotas
dores sobrevoando
recados que vem da garrafa
quando estou no fundo dela

mas tô aqui para dizer
que tô onde não tô.

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